Através do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada descobri o jornal on line "Tudo Rondônia" (editado pelo jornalista Rubens Coutinho) com esta análise bem-humorada, apesar do tema grave, a respeito do Brasil.
Concordemos ou não no todo ou em parte com o texto abaixo, é sempre uma renovada surpresa conhecer uma imprensa regional via web com este grau elevado de discernimento, o que certamente acontece agora em outras partes do País.
SANGUE TUPINAMBÁ
"Por conta de notícias recentes, o espírito da ascendência tupinambá anotado pelo filósofo Michel Montaigne anda subindo à cabeça do frei Luciano de Rubempré. O interessante é que, como o frei está convencido de que todos os brasileiros têm, em alguma medida, uma ponta da alma do povo nativo, sua esperança é a de que o país possa entrar num estado de insurreição de uma hora para outra um dia aí na frente. O potencial explosivo está no sangue ? adverte o religioso. Basta que o estopim seja aceso, avisa.
Montaigne, leitor, teve um contato com uns chefes tupinambás levados a conhecer a França do rei Carlos IX no outono de 1562. O propósito dos franceses era fazer a cabeça dos índios com as maravilhas da corte, de modo a conquistar-lhes corações e mentes e assim facilitar o estabelecimento da França Antártica a partir da Baía de Guanabara - ocupada anos antes por Villegaignon. Deu xabu.
Os caciques ficaram horrorizados com o que viram do outro lado do Atlântico. No que aqui interessa, após conversar com três deles, o filósofo anotou: "Eles manifestaram sua incompreensão e espanto ao notar gente bem alimentada, morando em palácios, gozando a vida, enquanto homens emagrecidos, esfaimados e miseráveis mendigavam à porta dos outros. Os selvagens não entendiam como esses homens podiam suportar tanta miséria e injustiça sem se revoltar, incendiar as casas dos demais e depois torcer-lhes os pescoços".
É essa a herança genética a que se refere o frei. Essa capacidade de se indignar e reagir à altura diante das iniqüidades, vocação proveniente da ascendência nativa originária que o clérigo acredita correr nas veias da brasilidade, embora bastante entorpecida por séculos de cultura colonialista de corte mercantil e consumista. Mas, como fogo de monturo, capaz de irromper em chamas se reiterada e profundamente escavacada.
Para o beato, certo noticiário recente, se adequadamente refletido e desvelado, pode terminar por revolver essas cinzas e desencadear a coletiva e justa revolta."
Fonte:www.tudorondonia.com.br, em 06/07/09.
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